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PRODUÇÃO E TRANSPORTE DE ALIMENTO

HUGO SIQUEIRA

O custo do transporte, até agora visto como uma variável independente, não incide igualmente em todos os setores. Incide pouco sobre produtos tecnológicos, mesmo com preços elevados do petróleo. Já o mesmo não acontece com os produtos básicos. No setor primário, o custo da produção e transporte de insumos básicos é fortemente dependente do combustível. Nem a globalização da economia se processa de maneira idêntica e simultânea nos diversos setores da economia, privilegia os produtos mais valiosos. No estágio atual, de fato, o processo de globalização vem ocorrendo, sem obstáculos, em setores de serviços e de alta tecnologia. Componentes tecnológicos valiosos podem ser reunidos e redistribuídos de e para diversos países, quase sem custos. São transportados por aviões, alguns deles virtualmente, como softwares. No setor primário, entretanto, a globalização encontra resistência pelo elevado custo da produção e transporte de mercadorias baratas. Necessidades biológicas como alimentação, aquecimento, circulação, transporte exige gasto de energia que não pode ainda ser suprida por alta tecnologia. Em outras palavras, Energia e transporte não podem ser virtuais.
Até recentemente parecia que a globalização do setor primário fosse seguir os mesmos passos, isto é, insumos básicos de baixo valor como grãos poderiam ser transportados ao redor do mundo para alimentar animais de países industrializados e alguns emergentes. Mas, sucessivas altas no preço do petróleo encareceram a produção e o transporte dos grãos, acompanhando o preço do petróleo. Até os subsídios, praticados pelos países industrializados, se tornaram inócuos, como medida capaz de conter a valorização das comodities agrícolas. É claro que a globalização da economia no setor primário vai seguir um caminho distinto, porque a livre circulação de mercadorias baratas ao redor do mundo intensifica o uso de combustível. Até o petróleo requer combustível (o próprio petróleo) para ser produzido e distribuído. Cotado a 120 dólares o barril na bolsa de Nova York, é uma comodity como outra qualquer, cujo preço, 74 centavos de dólar o litro, é pouco superior ao da soja, cotada a 54 de dólar o quilo na bolsa de Chicago. As novas descobertas em mar profundo dificilmente conseguirão produzir petróleo a um custo inferior ao preço atual.
A terra é outro fator que concorre para mudança de rumo da globalização no setor primário. A utilização da terra para produzir um combustível alternativo em larga escala, apenas troca um recurso limitado por outro. A terra é um recurso tão limitado quanto o petróleo, dizem. A substituição de toda a gasolina contida no petróleo, apenas para consumo de automóveis em todo mundo, vai exigir uma quantidade de terras que pode ser satisfeita à custa da redução da área destinada à criação e engorda extensiva de bovinos que é menos eficiente. Mas, esse não é o problema principal. Algum setor será atingido, e ainda assim, o problema continuaria irresolvido. Faltaria combustível para aquecimento e acionamento de termoelétricas, que continuaria dependente do petróleo. O maior concorrente da produção de grãos e combustível é a extensa área destinada à criação de bovinos. A produção de carne bovina deverá passar por uma reformulação, diante da exigüidade de terra disponível para criação. Conquanto a tecnologia da seleção de linhagens já permita abreviar o tempo de permanência de bovinos no pasto, o mundo todo não dispõe de terra suficiente para atender ao consumo mínimo de carne bovina no presente e no futuro. Só alguns países, com disponibilidade de terra para cria de gado poderão dar-se a esse luxo. A nova tecnologia da biogenética, utilizada no Brasil em florestas cultivadas (clones de eucalipto) aumentou a produtividade da indústria do aço a partir do carão vegetal em mais de três vezes. A produção de alimentos geneticamente modificados pode tornar possível o aproveitamento direto dos grãos na alimentação humana, dispensando a cria de bovinos como fonte de alimentos protêicos. No futuro próximo, quando esta tecnologia tiver maior aceitação por parte do público, talvez venha a mudar todo o panorama da produção de alimentos protêicos.