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Os grandes planos energéticos

Durante largo período prosperou a idéia de que o desenvolvimento fosse algo planejável através de elevados suprimentos de energia per cápita. Esta foi a essência dos grandes planos econômicos do século passado: planejar o futuro através da projeção de demandas crescentes verificadas no passado. (Planos Qüinqüenais, Planos de Metas, New Deal, etc.).

A idéia aceita universalmente de que “o desenvolvimento requer grande aumento no uso de energia per cápita” ou “a aceitação tácita de que energia produz desenvolvimento” é apenas uma comprovação óbvia de um passado com abundância de recursos. Hoje, num quadro de escassez, não é mais imprescindível o grande uso de energia para se ter crescimento do produto bruto per cápita, como demonstram alguns países do Leste Asiático que conseguiram o mesmo objetivo sem recorrer ao aumento expressivo do uso de energia. Simplesmente “queimaram etapas” intermediárias dos países industrializados, ao ingressarem na fase da economia dos serviços, das tecnologias da informação e da eletrônica. Algo semelhante é evidenciado pelas mudanças estruturais ocorridas nos países industrializados, que tambem cresceram com diminuição do consumo de energia, entre 1975 e 1983, coincidindo com a experiência inédita de cooperação espontânea entre transnacionais e países em desenvolvimento. Uma redução de 6% no uso total de energia no Japão e países da OCED foi acompanhada de um crescimento superior a 21% no PIB per cápita (46% no Japão). Nos Estados Unidos o descompasso foi mais impressionante: crescimento de 17% no PIB com queda de 12% no uso de energia per cápita. Estudos correlatos mostram que esta tendência vai continuar por muito tempo, não só pelas mudanças estruturais que estão ocorrendo na economia desses países, como pelas possibilidades de uso mais eficiente da energia. Países em distintas fases históricas têm formas diferentes de combinar fontes de energia e formas de uso mais adequadas e eficientes, regidas pelos princípios da termodinâmica.

De fato o desenvolvimento ocorreu, mas não se pode dizer se foi consequência dos planos ou apesar deles. Os grandes planos de aproveitamento múltiplo de bacias: Tenessee Valley Authority (TVA) dos Estados Unidos, Qüinqüenais da antiga URSS, Plano de Metas do Sistema Elétrico Brasileiro, etc, influenciaram demasiadamente os planejadores da época do desenvolvimentismo. Alguns trouxeram consequência desastrosas, como consequência da dependência do petróleo e de capitais externos que levaram países em desenvolvimento ao comprometimento de suas exportações, com negociação de dívidas a juros variáveis (era Reagan). Alguns aprenderam a lição o que permitiu a condição favorável de hoje.

Não há um mundo previsível para o qual se possa preparar algum país para enfrentar a globalização da economia. A todo o momento, através de retro-efeitos (feedback) a vida irá se transformando segundo uma lei geral de probabilidades (auto-regulação). "A tecnologia, em sua permanente criatividade, levou de roldão a estabilidade cíclica dos sistemas simbólicos (arquiteturas puramente ideológicas)” (Malshall McLuhan).
Foi a estratificação do industrialismo que criou a necessidade de planejamento. O planejamento foi mais um instrumento de imobilização da vida (desestimulação da criatividade) que fator de reequilibração permanente. Os planos tinham por objetivo evitar a invenção. Velhos conceitos, puramente ideológicos (livre mercado, estatais, liberalismo), perderam totalmente o sentido com o fim das ideologias e o fim da história A palavra de ordem agora é “cooperação espontânea”. Como planejar um futuro, vivendo dentro das mudanças, que são verdadeiras mutações acontecendo e das quais não damos conta no tumulto das mudanças profundas?