sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

COMPETIÇÃO OU COOPERAÇÃO

HUGO SIEIRA

Os choques no preço do petróleo abrem um leque de oportunidades de cooperação espontânea, ímpar na história dos países em desenvolvimento. No artigo “Aspectos atuais da produção energética”, de 1975, já ponderávamos:
As novas condições impostas à economia do país, depois da elevação dos preços do petróleo, vêm despertando um interesse pelos assuntos energéticos que, antes, tinha estado latente e restrito aos setores especializados.
Se for certo que, em curto prazo, alguns setores como o dos transportes, continuem sofrendo severa restrição parece claro que, em longo prazo, o país saiu lucrando com a “crise dos combustíveis”: Em primeiro lugar, porque o setor energético foi amplamente beneficiado com a súbita valorização da energia que pode ser produzida por outras fontes, como as de origem hidráulica, das quais o país possui amplos potenciais disponíveis; em segundo, porque foi estimulado a investir na prospecção de recursos petrolíferos próprios, o que vai certamente garantir um futuro mais sólido, como livra o país de uma dependência incômoda.
Conquanto não sejam esperadas alterações substanciais nos rumos da política energética, cujo acerto ficou definitivamente comprovado com a crise dos combustíveis, há um interesse geral em conhecer pormenores de uma “crise” que afeta a todos indistintamente e algumas questões, que dela são derivadas, merecem ser debatidas:
• Como explicar, por exemplo, a afirmação de que a economia do país tenha sido “apenas parcialmente atingida pela crise dos combustíveis?”.
• Não parece que a energia, sobre as mais distintas formas ou origens, se tornou subitamente valiosa com a crise dos combustíveis?
• Não é de se esperar que o país, ao utilizar basicamente fontes hidráulicas na geração de energia elétrica, tenha ganhado um poder de competição na produção de bens industriais, especialmente naqueles cuja produção é intensiva em energia elétrica?


Agora em 2005, com o novo choque do petróleo, as mesmas condições se repetem.
No seu trabalho premiado “Energia para o desenvolvimento” de 1980, o professor José Goldenberg apontava:
“Os países em desenvolvimento não deveriam trilhar os mesmos caminhos de desenvolvimento do Norte, mas buscar novas direções e assumir os riscos da inovação em áreas especialmente promissoras”. “O sucesso do Brasil na produção de aço baseado no carvão vegetal mostra que é possível encontrar tecnologias avançadas que dêem amplo apoio às metas do desenvolvimento. A tecnologia é bem adequada aos recursos de muitos países ricos em biomassa e pobres em combustíveis fosseis”.
A disponibilidade de terras, subtilizada com a engorda de bois em regime extensivo, oferece enorme possibilidade de cooperação espontânea entre países em desenvolvimento, no desenvolvimento conjunto de alternativas mais promissoras: produção de combustíveis derivados da cana e de florestas cultivadas; produção de carne localmente; produção de aço baseado em carvão vegetal; produção sazonal de comodities metálicas de alto valor agregado (alumínio, estanho, níquel, zinco). Estas são alternativas muito mais promissoras do que a simples utilização de recursos naturais na criação extensiva de bovinos.

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