HUGO SIQUEIRA
No que respeita à oferta de alimento, o custo do transporte e distribuição são os fatores decisivos: A incidência do transporte no custo final do grão produzido é 10 vezes maior do que a incidência do transporte no custo final da carne. Custa mais transportar grãos do que produzir. Em termos comparativos, seria semelhante a exportar cana para produção de álcool em outros países.
O Brasil que abastece um terço da carne bovina negociada no mundo com um produto de alta qualidade, não precisa, necessariamente exportar grãos para produzir carne em outros países. Não é mais fácil produzi-la aqui mesmo, localmente? Raciocinando globalmente: não é mais eficiente exportar carne de boi confinado do que exportar grãos com os quais os bois se alimentam durante toda a sua vida?
Em termos de agregação de valor a possibilidade da criação de gado confinado é tentadora: imaginem a grande vantagem de exportar carne com os grãos já processados dentro do boi confinado e, sobretudo, deixando por aqui todo o resto (50%). Os antigos já sabiam disso, ao dizerem:
“O melhor modo de conservar milho barato é em sacos de couro, de porcos (bois) vivos”.
VANTAGENS DO CONFINAMENTO
Já vimos que, do ponto de vista da área ocupada, o confinamento de bois apenas troca uma área de cultivo por outra de criação extensiva. Neste particular seriam equivalentes. O confinamento, entretanto, tem vantagens marginais que não podem ser desprezadas:
O tipo de terra trocada não tem a mesma característica: terra de cria pode ser montanhosa, imprópria para o cultivo mecanizado de grãos. O confinamento ocorre com animais adultos mais pesados (12 arrobas) que produziriam maior pisoteamento e maior degradação dos pastos, se permanecessem em cria extensiva.
Por ser uma prática mais elaborada e intensiva em mão de obra, permite agregação de valor dos dois produtos: carne e grãos.
Oferece boas oportunidades de complementação com outras atividades, trocando resíduos e insumos entre as mesmas. No Cerrado Mineiro está se tornando habitual o plantio de cana, cultivo de alimento, fabricação do etanol e confinamento de bois em uma mesma unidade agroindustrial que contempla várias atividades em um mesmo lugar e ao mesmo tempo. O composto orgânico utiliza bagaço, subproduto do etanol, para compor a cama dos bois no confinamento, da qual resulta o adubo orgânico para lavouras de cana e grãos. O bagaço pode ser usado na alimentação animal.
A criação de gado solto, entretanto, só é mais barata para alguns, porque não leva em conta um fator oculto nos cálculos de custo-benefício: o valor do patrimônio ambiental. E não o fazem pelo simples fato de não saberem como avaliá-lo em termos monetários. É um valor intangível, portanto subjetivo. É uma opção política, por isso crucial.
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