sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

RECURSOS LIMITADOS

HUGO SIQUEIRA
A queima de combustível é a forma mais direta de produzir calor, e a única disponível no momento. Por isso a terra tambem é um recurso limitado, tanto quanto o petróleo, no sentido que vai ser disputada para a produção de combustíveis alternativos e produção de alimentos (grãos).
Se considerarmos que todas as reservas de floresta e combustíveis fósseis, deixadas através de bilhões de anos, foram gastos em apenas 300 anos do industrialismo, é impossível substituir o que foi gasto por combustíveis, nem que toda a superfície do planeta fosse replantada com as diversas espécies: cana, oleaginosas e floresta artificiais cultivadas. “Devemos lembrar que árvores cultivadas e cana podem ser renováveis, mas, as terras não. Embora a biomassa seja um recurso renovável, o solo onde ela cresce não o é” (Ponto de Mutação, Fritjof Capra, Cultrix, 1982).
Dois fatos importantes, capazes de inverter totalmente o foco das atenções, não foram ainda considerados:
 O primeiro, de efeito imediato, está relacionado com as necessidades humanas de alimentação e aquecimento, ambas igualmente vitais e dependentes de combustível. Maior demanda de combustível para aquecimento produz alta no preço dos alimentos protêicos (grãos) e vice-versa, maior demanda de carne pelos países emergentes produz alta no preço do combustível de aquecimento direto de residências. Maior demanda de cada produto influi no outro através do preço do combustível.
 O segundo, de médio prazo e relacionado com o primeiro, é a demanda maior de área de terra para cria e engorda de bovinos, que é o maior concorrente da produção de grãos e cana.
Maior demanda por grãos dos países emergentes afeta diretamente preço da carne e, indiretamente, pelo custo da quantidade adicional de grãos transportados.
Maior demanda de energia de aquecimento no inverno dos países de clima frio do norte significa: maior gasto de combustível no verão dos países em desenvolvimento do sul e, conseqüentemente, maior custo de produção de grãos e maior preço da carne e vice-versa: maior demanda por produção de grãos no verão dos países em desenvolvimento do sul significa: maior gasto de combustível no inverno dos países industrializados do norte e, conseqüentemente, maior o custo de produção de energia de aquecimento.
Onde quer que ocorra um aumento da demanda por combustíveis, seja qual for a causa, o preço do petróleo sobe e a carne tambem Uma elevação concomitante ocorre no preço da energia e dos grãos: é impossível separar uma causa da outra. Certamente o preço do petróleo continuará em alta com a chegada do inverno no hemisfério norte, uma vez que as demanda são quase coincidentes. O gatilho para a disparada no preço do petróleo e grãos no presente é o maior demanda de petróleo e alimentos protêicos pelos países em desenvolvimento que estão crescendo mais (Brasil, Rússia, Índia e Leste Asiático).

Até agora o custo do transporte tem sido visto como uma variável independente e inerente ao processo de globalização da economia. No estágio atual de fato, o processo de globalização vem ocorrendo em setores de serviços e alta tecnologia nos quais a incidência do custo do transporte é desprezível, tendo em vista que bens tecnológicos e informação são valiosos e destituídos de peso. Componentes tecnológicos valiosos podem ser reunidos e redistribuídos de e para diversos países quase sem custos. São transportados por aviões, alguns deles virtualmente, como softwares. No setor primário, entretanto, o custo da produção e transporte de insumos básicos é fortemente dependente do combustível, por isso o transporte tem que ser levado em conta, inclusive o custo da produção do combustível alternativo. Se no primeiro caso o condicionante da cooperação espontânea entre países foi a mão de obra barata dos países asiáticos, agora os condicionante serão outros: disponibilidade de terra arável para produção de grãos, combustível e pastagem para cria de gado.
É claro que a globalização da economia no setor primário vai seguir um caminho distinto, porque a livre circulação de mercadorias baratas ao redor do mundo intensifica o uso do combustível. Essa é a razão dos subsídios praticados pelos países industrializados. Tomam prejuízo na produção própria de grãos para ter segurança alimentar na produção de carne e garantia de fornecimento de grãos baratos. Mas, não conseguem evitar o encarecimento dos grãos em razão da alta incidência do custo do transporte. No caso da carne bovina os obstáculos são maiores, porque não dispõem de terras para cria.

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