sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

O FIM DO PETRÓLEO E OUTRAS HISTÓRIAS

HUGO SIQUEIRA


A extrema dependência do petróleo, como fonte quase única de suprimento de combustíveis aliado ao atual quadro de incertezas quanto ao futuro da globalização vem despertando o ressurgimento de velhos temores: “o fim do petróleo”, “a falta de terras”, “o fim da energia”, “o fim do trabalho”, etc. Esses temores estão associados a duas necessidades vitais que dependem fundamentalmente de energia para serem satisfeitas. Países de clima frio, industrializados ou não, dependem do petróleo para aquecimento; Países em desenvolvimento dependem do petróleo para alimentação.
A dependência do petróleo como única fonte produtora de energia, tem levado a utilização da terra como um recurso na produção de um combustível alternativo, o que leva a suspeita de que esta seja tambem um recurso limitado, tanto quanto o petróleo.
Na verdade, todos os recursos serão sempre limitados, na medida dos nossos desejos. O mundo já se confrontou com o problema da escassez de recursos anteriormente e, muitos deles, anunciados de forma catastrófica, encontraram solução natural, com ajuda da ciência disponível a época (Clube de Roma, Profecias de Malthus). Agora mesmo estamos diante de novas ameaças de poluição, aquecimento global e mudanças climáticas, algumas sem a devida comprovação científica. As afirmações grifadas anteriormente constituem “expressões de retórica”, destituídas de significado objetivo. São expressões ambíguas no sentido da extensão e condições a que elas se referem. Muitos autores têm usado indevidamente, por exemplo, a palavra “recurso limitado”. --O que querem dizer, exatamente, quando afirmam que o petróleo é um “recurso limitado?” --Limitado no tempo e no espaço (100 anos, por exemplo, excluída a Antártica e o pólo Ártico)? A experiência tem mostrado que, toda vez que o preço do petróleo se eleva subitamente, novas descobertas de petróleo surgem (Mar do Norte, Alasca, costa brasileira).--Quem, em “sã consciência”, pode afirmar que depósitos fósseis, acontecidos ao longo de bilhões de anos, sob as mais severas condições de pressão e temperatura no interior da terra, podem acabar de uma hora para outra, em poucos anos do “industrialismo”? É muita presunção. Ainda bem que os países industrializados não levem muito a sério esse tipo de ameaça, que mais parece uma “seita”.


PETRÓLEO COMO COMODITY

O petróleo é uma comodity como outra qualquer, cujo preço, 50 centavos de dólar é pouco superior ao da soja pronta para o consumo. O que torna o seu uso atraente são seus múltiplos componentes, depois da destilação: gasolina, diesel, querosene, óleo combustível, etc. A importância do petróleo vai muito além do seu uso imediato como combustível. Alem de essencial para o atendimento de necessidades presentes, no futuro sua importância será ainda maior, devido aos componentes que pode fornecer, para obtenção de bens que se tornarão “escassos”. O petróleo pode vir a fornecer outros bens como fertilizantes, plásticos do futuro, produtos da química fina, etc., em lugar de ser usado apenas como combustível, quando podem ser encontrados combustíveis líquidos mais simples, derivados da cana e celulose. Uma alternativa promissora, para países que dispõem de combustíveis alternativos é a ”estocagem do petróleo” para utilização futura, quando novas tecnologias estiverem disponíveis e a melhor forma de estocar petróleo é a “não exploração” dos poços conhecidos.
Esta é a razão principal que justifica a procura de combustível alternativo em lugar de aceitar limitações “a priori”.


CONCLUSÕES PROVISÓRIAS

Todas as formas de energia provem do sol, a exceção da nuclear. A energia hidroelétrica é renovada a cada temporada de chuvas, mas, uma vez utilizados todos os saltos potenciais, não permite aumento. A energia dos combustíveis fósseis é tambem uma energia potencial depositada ao longo de bilhões de anos do trabalho da fotossíntese. Por ter sido cumulativa (como o raio x), é infinitamente maior que a energia hidroelétrica. Por esta razão, não somos ingênuos de imaginar que tenha chegado ao fim, com apenas trezentos anos do industrialismo. Agora mesmo estão sendo descobertas de petróleo a sete quilômetros de profundidade, na costa brasileira.
No passado o desenvolvimento ocorreu pela utilização de recursos abundantes da natureza que era o modo mais natural, compatível com o conhecimento da época. Hoje, o desenvolvimento deve ser buscado com formas mais engenhosas de utilização da energia. Uma das formas de economizar energia é deixando de gastar, mudando o tipo de atividade, conforme fizeram os países industrializados e alguns emergentes. Outra forma é tentar repor recursos que deram origem aos combustíveis fósseis, plantando novas árvores, ainda que sejam insuficientes. Uma terceira é produzir e gastar a energia de modo mais eficiente. Por incrível que possa parecer, esta é uma das maiores “fontes disponíveis”. A primeira, só mudar de atividade não é o bastante. Significa transferir a outros a responsabilidade de produzir transporte e alimento para os novos consumidores que continuarem necessitando energia para atender necessidades mais prosaicas como aquecimento e alimentação. Afinal nem todos poderão mudar para outras atividades ao mesmo tempo. Alguns permanecerão responsáveis pelo trabalho pesado, consumidor de energia. Os países industrializados poderão comprar energia, trocando por produtos tecnológicos (quinquilharias eletrônicas), ou então, produzir sua própria energia nuclear, ineficiente para aquecimento, a preços muito mais elevados (cerca de 6000 dólares por Quilowat)
É surpreendente que a nova tecnologia da informação e da eletrônica, que produziram tantos resultados, tenha encontrado apenas soluções parciais para problemas, que pareciam menores, como aqueles relacionados com a vida concreta do ser humano, no sentido mais estreito da palavra: sua existência animal e primitiva, como alimentação, aquecimento, circulação e transporte. Atividades biológicas do ser humano concreto exigem gasto de energia que não pode ser suprida apenas por alta tecnologia. O transporte e energia, não podem ser virtuais. A novíssima tecnologia da biogenética já está produzindo aumentos substanciais de produtividade nas plantações de cana e florestas cultivadas. A nova tecnologia da biogenética, utilizada no Brasil em florestas cultivadas (clones de eucalipto) aumentou a produtividade da indústria do aço a partir do carão vegetal em mais de três vezes. No futuro próximo, quando esta tecnologia tiver maior aceitação por parte do público, talvez venha a mudar todo o panorama da produção de alimentos protêicos.
Não obstante as alegadas razões ambientais, a prospecção de petróleo continuará em expansão, dada a sua grande importância estratégica.
Nos próximos capítulos vamos verificar quais atividades podem ceder lugar ao etanol, verificando o consumo de combustível futuro: terra para criação de bovinos e transporte de matéria prima, seguindo o conselho de José Goldemberg: “Os países em desenvolvimento não deveriam trilhar os mesmos caminhos de desenvolvimento do Norte, mas buscar novas direções e assumir os riscos da inovação em áreas especialmente promissoras”.
Por incrível que possa parecer, a mais valiosa fonte de energia permanece subutilizada: “o uso mais eficiente da energia disponível e a escolha das alternativas promissoras de produção e seus vetores energéticos”. José Goldemberg (Energia para o desenvolvimento, 1988) e (An End-use Oriented global Energy Strategy,” Annual Review of Energy, 1985, ) citado no trabalho “Energy for a sustainable World” do World Resource Institute.

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