sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

CONFINAMENTO

Perguntamos: porque o confinamento não acontece no Brasil e em alguns outros países? Algumas explicações plausíveis:
 Não existem mercados consistentes para a carne de boi confinado. Suscita muitas desconfianças sanitárias por parte dos países importadores (mal da Vaca louca, brucelose, aftosa, etc).
 Países emergentes preferem agregar valor em seus próprios territórios mesmo com importação de grãos mais caros, ocasionada pelo transporte excessivo de mercadorias baratas (1 r$ / Kg de soja e 60 centavos por Kg de milho). Mão de obra desocupada torna o custo da agregação praticamente zero nos países populosos.
 Produtores brasileiros recebem 70 centavos por Kg de soja e 35 centavos por Kg de milho.
 Alguns países importam a carne pronta do Brasil em razão da sua qualidade (carne verde).O custo para o país é a perda de patrimônio.
 Do ponto de vista sanitário é mais seguro para os importadores importar grãos do que carne pronta congelada de boi confinado.
 A produção de alimentos protéicos é tão restritiva que provoca aumentos consideráveis na procura por grãos, antes da procura por carne.
 Os confinadores prováveis de bois fazem as contas e percebem claramente que não compensa a empreitada. Vejamos, se comprar a ração e o volumoso, mesmo desprezando o custo de capital, teríamos o custo diário para um boi confinado em reais:
6 kg por dia de ração à 0.50 reais por kg........ 3.00
20 kg de volumoso à 0.05 reais por kg............ 1.00
Mão de obra e outros serviços.........................0.50
Total sem serviços......................................... .4.50
Durante 100 dias seriam gastos 400 reais.
Ora, este valor é superior ao valor de quatro arrobas ganhas com confinamento. Como dizem os boiadeiros: o confinador sai comprando as arrobas ganhas. Eles têm razão em afirmar que não dá lucro.
A única forma viável de confinamento acontece em unidades em que diversas atividades complementares estejam presentes, cada uma produzindo subprodutos que seriam insumos de outras. Por exemplo, plantação de grãos e alimentos junto com confinamento de bois associados a uma usina de álcool e um frigorífico para abate.
Se o Brasil, um país periférico, tem poucas chances de influir no cenário internacional, tem opções, entretanto. Deve persistir no propósito de reverter uma tendência secular, reduzindo a engorda de bois em regime extensivo. Este propósito está em perfeita consonância com a necessidade de preservar não só a floresta amazônica como tambem conter o excesso de pastagens degradadas. O mundo todo acabará por perceber que o excessivo transporte de mercadorias baratas (grãos) não é conveniente para ninguém porque acabará pressionando o uso eficiente da terra, da energia e dos combustíveis; todos fatores igualmente limitados.
Por mais anacrônica que possa parecer a exportação de “boi em pé”, anunciada ultimamente, ela tem uma boa justificativa: ao invés de exportar um boi gordo de dezesseis arrobas para ser desmanchado nos países industrializados e emergentes, são exportados garrotes de até dez arrobas para serem confinados nos paises de destino. O Brasil já tem tradição na criação de linhagens zebuína e industrial (Simental) que confere ao país a posse de uma tecnologia especial. Acresce o fato de que “criar gado é mais fácil do que engordar, pois ocupa espaço menor”. Ocupando menos da metade da área degradada é possível exportar garrotes selecionados, de alta qualidade e precoces, se os preços justificarem.
A engorda de bois vai ceder, inexoravelmente, lugar para engorda de outros animais como frango e porco, que têm taxas de conversão melhores. Um mundo com dez bilhões de habitantes não terá terra disponível para permitir sequer o consumo médio de dez quilos de carne bovina por habitante / ano, que é uma insignificância. Para conseguir este feito seriam necessários mais de cinco bilhões de hectares, coisa que o mundo definitivamente não tem. Ruminantes estão condenados como fontes de alimentos protéicos. A tecnologia genética apenas poderá retardar este acontecimento, o que garante certo conforto. Entretanto, a tecnologia recente da biogenética pode vir a revolucionar totalmente este quadro com a produção de alimentos modificados geneticamente.
Vender garrotes “raçados” (industriais) é uma alternativa mais promissora do que vender bois gordos em regime extensivo. As novas tecnologias da genética oferecem oportunidades melhores de abreviar o tempo de produção de carne de animais precoces, entre dois e três anos. Segue uma tendência inevitável no longo prazo que se relaciona com a utilização de ruminantes na produção de alimentos protéicos. As áreas disponíveis para cria de gado sofrerão no futuro uma forte concorrência por parte de outras atividades mais eficientes do uso da terra. A terra também é um fator limitante, tanto quanto petróleo

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