sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

TERRA PARA PASTAGENS

HUGO SIQUEIRA


A criação de gado de forma extensiva é utilizada por países com grandes áreas geográficas como Brasil, Estados Unidos, Argentina e Austrália. O rebanho brasileiro supera a população e ocupa 200 milhões de hectares (um animal por habitante)
Tudo se resume em uma questão de eficiência do processo de transformação, conhecido como “taxa de conversão” do grão em carne. Pequenos animais não ruminantes, que constituem a base da alimentação de muitos países, como frangos e suínos consomem pouco: de 2 a 5 Kg de ração para cada Kg de carne produzida, respectivamente. Estes animais não requerem áreas de criação, pois são confinados desde o nascimento. Bois consomem muito mais: de 8 a 10 Kg de ração para a mesma quantidade de carne produzida. Biologicamente, o complexo organismo desses ruminantes é adaptado para o consumo de gramíneas, por isso requerem grandes áreas de pastagem para ficarem circulando, por até quatro anos, pisoteando e defecando sobre seus próprios alimentos, e desperdiçando energia vital. Até três anos, tudo o que consomem de energia é para eles próprios, para crescerem e viverem simplesmente. Entretanto, contrariamente a sua própria natureza, foram tambem ensinados a comer grãos em confinamentos, fato que, em suma, gerou toda a sorte de problemas mencionados.
Os Estados Unidos utilizam um artifício inteligente: subsidia grãos, a custa dos contribuintes. Neste caso perdem dinheiro, caso o excedente fosse exportado. Entretanto usam grãos subsidiados para confinar bois. Com o alto valor agregado da carne (seis reais), voltam a ganhar dinheiro. Unidades de confinamento para 200 mil bois são práticas correntes. A busca de valor agregado pode tambem ser um objetivo brasileiro, limitando a exportação de grãos, o que não é bem visto pelos países importadores. Como o preço dos grãos sobe mais depressa do que a carne e como o confinamento não é viável no Brasil, uma alternativa promissora para evitar pastagens degradadas é a exportação da tecnologia de bois precoces, na forma de “boi em pé, na qual o país tem tradição de mais duzentos anos”. Nesta forma, o boi precoce é exportado vivo junto com os grãos e alimentado durante a viagem.

NECESSIDADE DE GRÃOS E TERRA DISPONÍVEL
DESCRIÇÃO PESSOAS BOIS BOIS + PESSOAS CRIA DE BOIS ÁREA TOTAL
Consumo / tipo Cereais Carne Grãos Grãos Pastagens
Consumo anual por habitante em kg 200 40 400 600
Anual para a população
Bilhões de toneladas 2 (0.4) 4 6
Área de cria 7000
Milhões de hectares 400 800 1200 7000 8200
1,6 bilhões de bois
Tabela 2- Necessidades alimentares e terra disponível. (só carne bovina)
Área necessária para um consumo humano anual por habitante de 200 kg de cereais e 40 Kg de carne bovina:
Tipo de criação
Criação confinada Criação extensiva
Cereais 400 400
Grãos 800
Cria 7000 7000
Engorda --- 3000
Total 8200 10400

Tabela 3 - Comparação entre atividade extensiva e confinada.
O confinamento de bois desocupa 2200 milhões de hectares líquidos, ou seja, troca área de pastagem para engorda (3000) por área de cultivo de grãos (800), mas, a área de cria permanece alta e acima do disponível. Como existe pouca área disponível no mundo para cria de gado, é possível que o boi perca importância para frangos e suínos como fonte de alimento protéico. Com a seleção de linhagens, o mais provável é que venham a ser criado o boi precoce, cujo objetivo é reduzir o tempo de permanência de bois no pasto.
Abaixo é feito um cálculo das necessidades de terra para o mesmo suprimento de alimento protéico, de 40 Kg anuais / hab, agora composto por 20, 10 e 10 Kg, respectivamente, de frango, porco e boi.







NECESSIDADE DE GRÃOS ÁREA OCUPADA
DESCRIÇÃO Das pessoas Dos animais Total Cria Total

Tipo / consumo Cereais carne Grãos Grãos Pastagens
Anual por hab --Kg 200 40 200 400
Taxa de conversão:
Frango...2.5 Kg /Kg 20 50 100
Porco.....5.0 Kg /Kg 10 50 100
Boi.......10.0 Kg /Kg 10 100 200
Consumo Anual da População
Bilhões toneladas 2 (0.40) 2 4

Frango (0.2) 0.5 1 --
Porco (0.1) 0.5 1 --
Boi (0.1) 1.0 2 3500

Área necessária
Milhões de hectares 400 400 800 3500 5100
Tabela 4- consumo anual de 200 Kg de cereais, 20 Kg de frango, 10 Kg de porco e 10 Kg de boi.
A tabela 5 mostra que mesmo reduzindo o consumo anual de carne bovina para apenas 10 kg por habitante a área de cria permanece elevada, apesar da redução de 3100 milhões de hectares na área total.

REDUÇÃO DA ÁREA OCUPADA COM CONFINAMENTO EM HECTARES
1º caso 2º caso
Consumo de 40 kg/hab/ano Só boi Frango, porco e boi.
Energéticos 400 400
Grãos 800 400
Cria de bois 7000 3500
Total 8200 5100








Tabela 5 - Área ocupada com redução do consumo de carne bovina
Conclusão: A carne de boi é proibitiva como fonte de alimento protéico, mesmo nas quantidades ínfimas de 10 Kg / hab/ ano, o que corresponde a um bife de 30 gramas diárias, menor que um “Danoninho”. A produção de carne bovina deve ficar restrita (localmente) àqueles países que têm terra suficiente seja para cria de bovinos como para a produção de grãos. Os demais países, com insuficiência de ambos os fatores, não têm alternativos senão importar a carne pronta de outros países.
O grande temor, manifestado diversas vezes nos organismos internacionais (FAO) é não existir área suficiente no mundo para os diversos países alimentarem animais em seus territórios como produtores de carne. Nesse particular, têm razão, posto que os limites sejam bastante estreitos: 400 milhões de Hectares para alimentos energéticos; 400 milhões de Hectares para alimentar animais que produzem alimentos protêicos e mais 3500 milhões de Hectares para criação de bois. Têm receio de um boicote, semelhante ao proposto na Argentina, restringindo a exportação, o que tornaria mais caros os grãos. Em suma, temem a formação do “cartel dos grãos”, semelhante ao da OPEP.
Bem, as preocupações não terminam aí. Este aspecto abordado constitui apenas á metade do problema geral, cuja outra metade se refere ao elevado custo do transporte de mercadorias baratas, a ser tratado no próximo capítulo.

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