domingo, 5 de julho de 2015


CRISE DE ALIMENTOS OU CRISE DE ENERGIA Nos organismos internacionais a atual crise dos alimentos é tratada com tamanha superficialidade que leva a suspeita de ignorância ou certa dose de má-fé. Causa estranheza que cálculos simples, utilizando apenas aritmética, não sejam compreendidos pelos cultos chefes de estado que, afeitos a decisões políticas de magna importância, bastaria a eles uma simples consulta a qualquer cientista para ter a ajuda imediata: “as duas coisas estão relacionadas. Entretanto, é muito mais fácil produzir energia de aquecimento e alimentos calóricos (cereais, legumes e frutas) do que alimentos protéicos (carne)”. Quando a atual crise das comodities é abordada genericamente nos organismos internacionais, os representantes dos diversos países utilizam a expressão “crise dos alimentos” -- um argumento diplomático mais visível e comovente, contraposto ao etanol -- para se referirem ao grão, milho e soja, que importam para alimentar animais. Ora, o grão não é, tipicamente, um alimento do ser humano. Ele os consome, em quantidade significativamente menor que os animais, é claro, na forma de cereais e em conjunto com outros alimentos energéticos. Guardadas as proporções, os animais é que são os grandes consumidores de grãos, especialmente os bovinos. Soja e milho concentram 82.4% da produção agrícola brasileira de 2008. Apenas 7.6% correspondem aos outros alimentos energéticos (Arroz, trigo, feijão, batata, mandioca e outros). Na verdade o mundo não carece de alimentos energéticos, mas de alimentos protêicos como a carne, especialmente a carne bovina, que não consegue produzir em quantidade satisfatória por insuficiência de terra combustível. Se o temor é o de perder os fornecedores de grãos, isso já está acontecendo: ao melhorarem de vida, os asiáticos desejam pelo menos um décimo do consumo dos países industrializados (100 kg anual por habitante nos Estados Unidos), e não apenas alimentos energéticos como arroz, trigo e animais exóticos. Paradoxalmente, os representantes dos países industrializados, presumivelmente mais cultos, parecem não levar muito a sério as questões ambientais (Estados Unidos, China) enquanto os representantes dos países em desenvolvimento são os que mais se preocupam. Em plena era da globalização, com as mudanças ocorrendo, problemas cruciais como “Aquecimento Global” e “O Fim dos Recursos Mundiais” - que são problemas de todos, mas não são de ninguem – encontra um tratamento paroquial, cada país buscando a solução de curto prazo para si próprio, que atenda seus interesses imediatos. Países industrializados parecem mais preocupados com o fim dos recursos mundiais, de curto prazo, do que com as mudanças climáticas, cujos efeitos são anunciados para o fim do século. Seu maior temor é de que países em desenvolvimento venham a utilizar energia da forma predatória, como eles o fizeram no passado e, com isso, tenham que compartilhar recursos escassos como petróleo para aquecimento de residências e, grãos para sustentar a produção de alimentos protêicos em seus países (carne).

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