segunda-feira, 6 de julho de 2015


ENTENDENDO A LÓGICA DO BOIADEIRO Para ilustrar toda construção teórica apresentada até aqui vamos contar a história de dois boiadeiros: o Zecamâncio e o Joaquim Novato, os dois muito “seguros”, “ridicos” até, bem dizer, “miseráveis”. Era assim que pensava o Joaquim Novato: “a melhor forma de guardar milho barato é em sacos de couro de porco vivo”. Toda vez que anunciava uma seca prolongada o Joaquim Novato comprava bezerros com medo dos pastos secarem e a carne baixar de preço (isso mesmo!). Comprava milho barato do Zecamâncio para tratar dos bezerros, ajudando “no cocho”, para eles não perderem peso no pasto seco, “macega” pura. Sabia que, mais cedo ou mais tarde, o capim brotava e os pastos voltavam. Nesta ocasião, depois de alguns anos, o preço da carne subia (assim mesmo!) e os donos de terra procuravam garrotes e bois magros para engordar. Era só questão de tempo e paciência: esperar era o melhor remédio. Muito religioso, o Joaquim Novato acreditava na predição bíblica dos “sete anos de vacas magras e sete anos de vacas gordas”. Vendia os bezerros, já garrotes ou bois magros com lucro e emprestava o dinheiro a juros, era agiota tambem. A lógica do boiadeiro é a seguinte: “comprar de quem quer vender e vender para quem quer comprar”, uma lógica que enriqueceu muita gente. Sabe, por experiência, que um garrote vira boi em dois anos: no primeiro, vira boi magro e, no segundo, vira boi gordo. Com a venda do boi gordo poderia comprar dois garrotes: Um pagava o capital inicial e o outro era um “lucro biológico” de 50% ao ano, ou seja, um garrote dobra de valor em dois anos. O crescimento exponencial de 30% em um ano significa dobrar em dois anos e meio. Em termos de rendimento do capital significa um lucro anual de 25% ao ano (maior do que a “Selic”), pois tinha que repartir o lucro com o dono das terras.“ Alem disso podia contar com o lucro especulativo de comprar no período de vacas magras, para vender no período de vacas gordas. Qual era o segredo da lógica do Joaquim Novato? A resposta é simples: durante o período em que mantinha o garrote, estava ”guardando milho barato em sacos de couro de boi vivo”. Ele sabe que, se a seca prolonga, os outros vão desocupar os pastos para que o gado não emagreça. Primeiro vendem os bois gordos, depois os garrotes e as matrizes. Quando os pastos voltam, o Joaquim pode criar o dobro de garrotes na mesma área onde antes engordava bois com peso acima de 16 arrobas. Em 1949, quando a revista “Conjuntura econômica” iniciou a divulgação do índice de preços fizemos o acompanhamento dos preços agrícolas deflacionados durante longo período e chegamos à conclusão de que muitos produtos apresentavam variação cíclica ao longo dos anos, entre os quais o preço do boi e da carne, que mostravam um ciclo característico de sete anos. Milho e porco tinham ciclos menores, de três anos, mas em fases opostas: quando o milho estava no máximo, o porco estava no mínimo. Referência sobre estes ciclos pode ser encontrada na publicação “Preços Agrícolas” da ESALQ (Escola Superior de Agronomia Luiz de Queirós). História semelhante a que contamos, pode ser encontrado no livro “Por Dentro do Redemunho”, Editora Scortecci, 1995, São Paulo, do autor destas notas.

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